- Pai?
- Oi, Pedro.
- Acordado ainda?
- Pois é, um pouco preocupado com seu avô que ainda está no hospital. Você quer conversar?
- Nada demais. Só um sonho que eu tive.
- Como era?
- Não sei bem, era um mundo do futuro.
- Que ano?
- Acho que não tinha ano.
- Hum, e o que tinha no seu sonho?
- No meu sonho éramos todos meio robôs, meio ciborgues...
- Uau!
- Todos tinham braços biônicos e vozes mudas. As pessoas passavam muito tempo sem se encostar, apenas se comunicavam por ondas e circuitos eletrônicos.
- Puxa, que inconsciente o seu... será que não são os remédios pra sua bronquite que interferem no seu sono?
- Sei lá... na verdade não era um pesadelo, era só estranho. Depois aparecia um homem nu pra mim e retirava sua pele como se fosse mudar de roupa, deixando que eu visse sua estrutura interna cheia de mecanismos metálicos e microcircuitos. Aí ele atirava a pele em minha frente e ela se tornava uma tela surrealista com uma frase pintada, acho que em sangue...
- Que frase?
- Estava escrito: "Isto não é um sonho". O que será que isso significa, pai?
- Não sei bem, mas acho que você tem assistido muito filme de Hollywood, filho... não se preocupe que os sonhos são assim mesmo, surrealistas. Isto não muda, sempre foi assim e sempre será, pros seus filhos, pra você, pra mim, pro seu avô...
- Aliás, e o vovô, como está?
- Tudo bem, mas teve de fazer essa outra cirurgia de ponte de safena. Agora ele depende cem por cento dela.
- Puxa, que droga... Pai, deixe eu mostrar um desenho que eu fiz do andróide pra você.
- Amanhã, Pedrinho. Não posso agora, pois estou sem lentes e tenho que dormir. Acordo muito cedo amanhã.
- Ok, pai, boa noite.
- Você vai dormir também?
- Não, tô sem sono. Vou ficar jogando aqui na net, mas qualquer coisa eu estou online, tá? Você sabe que aqui em Tokyo é cedinho quando aí é madrugada.
- Tá certo, fica bem. Beijo do pai.
Pai desconectou-se.
Pedro on-line.
.
.
(texto e desenho de Chuí)