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terça-feira, dezembro 18, 2007

O Sonho

- Pai?
- Oi, Pedro.
- Acordado ainda?
- Pois é, um pouco preocupado com seu avô que ainda está no hospital. Você quer conversar?
- Nada demais. Só um sonho que eu tive.
- Como era?
- Não sei bem, era um mundo do futuro.
- Que ano?
- Acho que não tinha ano.
- Hum, e o que tinha no seu sonho?
- No meu sonho éramos todos meio robôs, meio ciborgues...
- Uau!
- Todos tinham braços biônicos e vozes mudas. As pessoas passavam muito tempo sem se encostar, apenas se comunicavam por ondas e circuitos eletrônicos.
- Puxa, que inconsciente o seu... será que não são os remédios pra sua bronquite que interferem no seu sono?
- Sei lá... na verdade não era um pesadelo, era só estranho. Depois aparecia um homem nu pra mim e retirava sua pele como se fosse mudar de roupa, deixando que eu visse sua estrutura interna cheia de mecanismos metálicos e microcircuitos. Aí ele atirava a pele em minha frente e ela se tornava uma tela surrealista com uma frase pintada, acho que em sangue...
- Que frase?
- Estava escrito: "Isto não é um sonho". O que será que isso significa, pai?
- Não sei bem, mas acho que você tem assistido muito filme de Hollywood, filho... não se preocupe que os sonhos são assim mesmo, surrealistas. Isto não muda, sempre foi assim e sempre será, pros seus filhos, pra você, pra mim, pro seu avô...
- Aliás, e o vovô, como está?
- Tudo bem, mas teve de fazer essa outra cirurgia de ponte de safena. Agora ele depende cem por cento dela.
- Puxa, que droga... Pai, deixe eu mostrar um desenho que eu fiz do andróide pra você.
- Amanhã, Pedrinho. Não posso agora, pois estou sem lentes e tenho que dormir. Acordo muito cedo amanhã.
- Ok, pai, boa noite.
- Você vai dormir também?
- Não, tô sem sono. Vou ficar jogando aqui na net, mas qualquer coisa eu estou online, tá? Você sabe que aqui em Tokyo é cedinho quando aí é madrugada.
- Tá certo, fica bem. Beijo do pai.

Pai desconectou-se.
Pedro on-line.
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(texto e desenho de Chuí)

domingo, dezembro 09, 2007

Fernando Chuí convida Danny Vincent ENCRUZILHADA NA SÉ! - Nesta Quarta, 12/12

Nesta quarta, uma nova encruzilhada da música.
O evento Jazz na Caixa produzido pela Caixa Econômica une músicos de gerações diferentes em uma confluência de estilos e obras. Fechando o projeto do ano de 2007 produzido pela Brazilbizz, eu terei como convidado o veterano Bluesman (e já conhecido deste blog) Danny Vincent, parceiro de Flávio Guimarães e Nuno Mindelis e um dos pioneiros do blues paulista com um histórico de participação nos maiores festivais do gênero, além de ter aberto artistas como B.B. King.
O show mesclará arranjos de composições minhas e sambas antigos tocados com o sotaque blues ao estilo construído no Samblues. Danny dedicará toda a verve de sua pungente e sábia guitarra ao meu olhar de cantor e compositor urbano-brasileiro.
Tocando conosco, o infalível Guappo e sua gaita mágica.
O show acontecerá às 18h30 no Grande Salão do Edifício Sé (Praça da Sé, 111), fechando este belo projeto que pretende gerações e revelas afinidades musicais.
Fiz este convite-marcador-de-livros para chamar a todos para mais esta leitura coletiva da vida, e a entrada é franca. A apresentação fechará o meu ano musical e será uma benção tê-los por perto mais uma vez.
Beijos a todos,

Chuí

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Sexo


Aí você toma o meu corpo, suave;
e é como se me erguesse, cigarro. Ou
me empunhasse pra escrever um verso,
caneta. Ou só pra rabiscar. Me usasse
apenas pra se embelezar, batom. Ou
pra rabiscar mesmo. As pontas noturnas
dos seus dedos me digitassem a antepele
pra fazer sons comigo. Ou, você sabe,
só pra rabiscar. E ele (o meu corpo) escora-se e
esgota-se e evapora-se e pesa e pulsa nos seus
interiores. Sua maior força é a de não sabê-la
sequer; Ali onde não sou seu homem. Nem sua
mulher. E somente o desastre nos separa.
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(texto e desenho: Chuí)