



Parece música, mas é mais dança. Desenho.
Você pensa que é uma voz,
mas é só respiração.
Um lance de dúvidas. Um contrário de mágoa.
Mágica.
E pessoas ainda acreditam
que poderão acessar a mágica
consumindo mágica.
Nas TVs, nas revistas, no cinema.
Por isso as pessoas se entorpecem imitam
compram rezam vendem fumam trepam.
Por isso se vestem de formas diferentes,
se despem de padrões, se vestem de padrões.
Por causa da mágica.
Só que mágica não pode ser consumida.
Precisa ser reinventada.
Por isso se inventa um gesto.
E maior do que o dono do gesto é o gesto.
O traço, a voz, o passo, meu Deus que passo mais doido,
um desenho ou um milhão deles, pra onde eles vão agora?
Mágica que não é truque. Mas é.
Não é técnica. Mas talvez seja.
Por isso inventa-se a pessoa capaz de se inventar a si própria.
E uma criança disléxica se torna poeta.
E um feio se torna lindo.
E um cigano sem dedos se torna mestre da guitarra.
E um publicitário vira escritor maldito.
E uma verdade recebe o nome de milagre.
Por isso uma pessoa tinge a própria pele de outra cor.
E quando desejo engole destino, não é melhor nem pior,
se você não souber ver o que é mágica.
Porque até hoje nada que fez sentido neste mundo
se fez sem mágica.
Por isso um corpo se nega a si próprio
e se oferece ao resto do mundo.
Por isso se nega política dívida idade.
Nada mais figurativo e nada mais abstrato.
Michael Jackson
Dança
Desenho
Pois inventa-se um corpo maior, muito maior,
imensamente maior do que a vida e a morte
do dono do corpo.
*título em referência ao livro de Paul Valéry "Degas Dança Desenho".
(texto e 4 estudos de Michael Jackson de Chuí - clique nas imagens para ampliar)