Ao alcançar o topo da montanha,
meta de uma vida inteira de estratégias e batalhas,
o homem teve a impressão de não haver mais limites para si.
Nesse instante, ajoelhou-se
como que em um reflexo natural de sua redenção.
Iludido, abaixou a cabeça e olhou para baixo,
buscando enxergar o caminho trilhado
e se regozijar ante à longa e heróica trajetória.
Todavia, não vislumbrando mais para onde subir,
não pôde deixar de se curvar diante do fato
de que não podia por fim tocar o firmamento.
A vitória lhe trazia o claro indício do fracasso.
Fragilizado, mais pela constatação
do que pelo cansaço da escalada,
teve o impulso de se jogar dali do cume
para o início de tudo, reencontrar o marco inicial,
o ponto zero; fechar a parábola,
cumprir o restante do arco que o separava das pedras.
Naquele segundo, mirou sem querer
o desenho do próprio rosto entre os rochedos.
Percebeu que agora só lhe restavam dois caminhos possíveis.
O primeiro era apagar-se daquela maneira,
como um raio que invejasse as estrelas.
E um outro, que se fez evidente
como a dança viva e morta do zodíaco
a enlaçar futuro e passado.
Esqueceu então os pontos da paisagem
que definiam onde acabava a montanha
e onde começava o homem.
Desta forma, ascendeu ao céu.
.
Na vida, os limites são somente linhas divisórias
entre aquilo que se imagina desejar
e aquilo que se permite viver.
.
(texto e desenho de Chuí)