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domingo, abril 29, 2007

Tubaína no Youtube


Amigos, esta semana foi postado no Youtube um video com minha apresentação na final do Festival da Música Brasileira da Rede Globo de 2000.
Deixo o link abaixo àqueles que ficarem curiosos e aos amigos antigos que quiserem rever este episódio da minha vida musical. Logo em seguida, eu lancei o meu primeiro cd Feito a Mão, que continha a canção em versão acústica.
A versão do festival saiu em um disco pela Somlivre. Como dá pra ver no video, é uma versão mais roqueira e tropicalista, um momento bastante importante estética e afetivamente para minha compreensão sobre os caminhos que eu deveria seguir nesta trilha tão incerta da música popular independente.
Divertido e bom olhar-se repentinamente sete anos mais novo e mais ingênuo.
Pois, invariavelmente, tudo na vida que é sete anos mais novo é sete anos mais ingênuo.

quarta-feira, abril 25, 2007

Romantismo


Olá, desculpe-me por abordá-la assim tão abruptamente, mas eu não pude deixar de reparar na sua beleza.
Honestamente, acho que nunca vi uma mulher tão bonita como você.
Seus olhos, são mesmo azuis? Lindos mesmo.
E seu pescoço, eu admiro muito isso, pescoço nobre.
E como você se veste bem, heim?
Acho fundamental isso numa mulher.
Tem umas que ficam só cuidando do corpo e esquecem do bom gosto.
E que pele, que dentes.
Outros caras só ficariam olhando pra outras partes suas, mas eu dou valor a esses detalhes.
Que me chamem de erudito, não me importo.
Ei, não que o seu corpo não seja divino, muito pelo contrário.
Aliás, com todo o respeito, você malha?
Você é de uma formosura realmente inacreditável. Especial, eu diria.
E vou lhe contar uma coisa, eu nunca disse isso pra ninguém.
Você deve estar se perguntando, ele se acha erudito com essa camiseta de futebol?
É que eu treino, também cuido de mim, certo?
Onde você vai? Não seja tímida.
Pare só um pouquinho, juro que sou apenas um romântico.
Pra onde você está indo? Eu posso lhe acompanhar.
É muito provável que eu vá amar você pro resto da vida.
Ou melhor, pra toda a eternidade!
Eu posso declamar Neruda pra você todas as noites, juro.
Que pressa a sua, não?
Sabe, contemplando seu semblante, sinto-me mais forte e mais fraco ao mesmo tempo.
Bem, isto não é Neruda, mas eu vi num filme do homem-aranha.
Você também gosta de cinema?
Você é um filme inteiro. Todos os filmes!
Você é quieta, heim?
Eu não me importo, o seu jeito apressado de caminhar já é pura linguagem.
Você deve estar pensando que eu sou mais um desses homens que só se preocupam com aparências, né?
Está enganada, eu só estou esperando as suas palavras pra que elas me guiem pra uma nova compreensão de existência.
Alguém com essa bunda - por sinal, que bunda você tem! - só pode ser muito inteligente.
Eu acredito no que diz Adorno no livro Minima Moralia, forma é conteúdo sedimentado.
Confesso não ter tido notícia de um conteúdo tão denso assim.
Heh, desculpe a piadinha, também não é muito do meu feitio, não sei o que acontece comigo quando falo com você.
Isto deve ser a tal paixão, modifica nossa percepção e nossa ação.
Você nunca ri?
Você é perfeita. A beleza perfeita.
Ah, já sei o que você vai falar, que a beleza está nos olhos de quem a vê, né?
Não, nada disso, não fique acanhada, você é realmente deslumbrante.
E eu, veja bem, sou somente isso que você vê, um romântico incorrigível.
Um romântico, diga-se de passagem, que acaba de se descobrir assim que a viu passar.
Como eu disse, nunca fiz isso antes.
Parar uma desconhecida na rua? Inédito pra mim. Mágico até.
Ah, não vá embora, gracinha.
Não corra, vá... peraí, me responda só, você tem orkut?
Volte!
Neruda! Drummond! Antonio Machado!
Não tenha medo do amor!!!
Não tenha medo do amor!!!
Não tenha medo do amor!!!

quarta-feira, abril 18, 2007

Violência


Certo dia, o muro em frente à minha antiga casa
amanheceu com a seguinte pergunta
registrada em tinta-spray vermelha
em letras tortas sangradas:
..
QUE VIOLÊNCIA VOCÊ PRATICA?
..
Não pude compreender aquele deboche.
Parecia que o próprio diabo havia se esgueirado por aquela ruela para deixar o recado para minha consciência.

QUE VIOLÊNCIA VOCÊ PRATICA?
..
Senti-me desafiado e desafiador ao mesmo tempo.
Por ser indagado por aquela questão insólita e também estranhamente impelido por aquela pichação. ..

QUE VIOLÊNCIA VOCÊ PRATICA? ..

Durante muitos meses aquela sentença me acompanhou como se eu fosse o rei da alguma droga de lugar e ela, o meu bufão. ..

QUE VIOLÊNCIA VOCÊ PRATICA?
Um dia, peguei-me amassando raivosamente um folheto do China in Box ao olhar para a paisagem.
Ao me dar conta, larguei imediatamente o papel que caiu no chão como uma vítima desmaiada.

QUE VIOLÊNCIA VOCÊ PRATICA? ..

Poucas semanas depois, percebi minha irritação ao falar ao telefone com um amigo.
Tive vontade de desligar o telefone, como se o aparelho fosse um rosto que pudesse ser esmurrado.

QUE VIOLÊNCIA VOCÊ PRATICA?

A pergunta passou a me perseguir dia após dia, noite após noite.
Percebi que agora guiava mais rápido, mais displicente, mais agressivo.
Dirigia com um braço pra fora do carro, maldizia a tudo que se tornasse uma imagem de obstáculo na minha linha reta, a lentidão das senhoras motoristas, a vida curta dos motoboys, os engarrafamentos, os semáforos.
Lançava palavrões ao vento.

QUE VIOLÊNCIA VOCÊ PRATICA?

Lembro-me do dia em que gritei com uma telefonista que queria me vender algum pacote sei-lá-de-que-catzo.
Saí de casa e mostrei a língua para uma criança na rua.
Assoviei para a mocinha que passava com o cachorrinho da casa onde trabalhava.
Cuspi no meio da rua.
Aquele punhado de letras mal grafadas se imprimia em meu cérebro, rabiscava-se em sua extensão como estilete, mantendo meus punhos agora constantemente fechados.
Eu sentia que algo estava para acontecer.
..
QUE VIOLÊNCIA VOCÊ PRATICA?
Certa manhã, aconteceu.
Nem deve ter sido pela manhã, mas foi ao acordar que, procurando com meus olhos vis e grudentos aquele refrão de canção invisível, vi que a frase havia sido apagada, sobrepujada por outra pichação, em letras ainda mais borradas.
Não me perguntem o que foi grafado por cima, eu não faço idéia.
Não obstante, eu podia ver, por trás de tudo, resquícios da palavra VIOLÊNCIA; agora um sussurro rosado por baixo de um outro nome que nunca pude reparar qual era.
Como se o bufão houvesse falecido e deixado como herança para mim o seu eterno riso.
VIOLÊNCIA

Parei de mirar o muro.
Voltei a abrir as mãos, em pouco tempo retomei a calmaria.
Porém, antes de me mudar dali tempos depois, em uma espécie de recaída, dei uma olhada sorrateira naquela parte do muro.
A gente devia aprender com a mitologia; mas não, eu fiz igual a Orfeu.
Olhei para trás.
As palavras que sobrepunham a indagação diabólica tinham sido parcialmente apagadas, provavelmente pela chuva, como uma piada de mau gosto vinda dos céus.
Li, assustado.

VOCÊ PRATICA?

Sinto-me pichado até hoje, parcialmente manchado com um sentimento que não posso definir.
Como se séculos escondessem uma pintura medieval por baixo de minha própria fachada de superfície lisa.
Alguma coisa entre a vergonha, o cinismo e a sabedoria.

PRATICA?
.
(Texto de Chuí / Desenho extraído de "Indecifrável" de Chuí - work in progress)

sexta-feira, abril 13, 2007

Mais um Passeio de Mandacaru


Nesta quarta, houve mais uma apresentação do mandacaru de pedra. Atendendo a pedidos de amigos queridos que me escrevem, aqui estou neste breve relato sobre a apresentação no SESC Pinheiros. Tocamos o seguinte repertório:

1 Passeio de Mandrágora (Fernando Chuí) - Banda
2 João da Silva (Fernando Chuí) - Banda
3 Drops (Fernando Chuí) - Banda
4 Funk Urbano (Fernando Chuí) - Banda
5 Nunca Vi Mandacaru (Fernando Chuí) - Banda
6 Não me Amola (Fernando Chuí) - Banda
7 Quero Amanhecer ao seu Lado (Fernando Chuí) - Banda

SAMBLUES
8 Saudosa Maloca (Adoniran Barbosa) – Chuí & Guappo
9 Juízo Final (Nelson Cavaquinho) – Chuí & Guappo
10 Se você jurar (Ismael Silva) – Chuí, Bruno Sciutto & Guappo
11 Na baixa do Sapateiro (Ari Barroso) – Chuí, Bruno Sciutto & Guima

12 Canção de Amor para Marcia (Fernando Chuí) - Chuí & Guima
13 Tubaína (Fernando Chuí) – Banda
14 Estrela Morta (Fernando Chuí) - Banda
15 Uma Outra Ilha (Fernando Chuí) - Banda
16 Assassinato ao Cair da Tarde (Fernando Chuí) - Banda

17 Feito a Mão (Fernando Chuí) – Banda - BIS

O show foi excelente. Algumas pessoas que acompanham meu trabalho me disseram ter sido a melhor apresentação do Mandacaru - abaixo já postarei alguns comentários que recebi de amigos presentes na noite.
A banda, Guima, Igor Pimenta e Humberto Zigler, impecáveis. Guappo esteve, como sempre, inspirado e recebeu muitos elogios das pessoas com quem conversei e o SAMBLUES pareceu ter recebido a aprovação dos presentes. Havia cerca de setenta pessoas, segundo o pessoal do SESC; muita gente não conseguiu vir e não tivemos teatro cheio, mas as pessoas foram bastante calorosas, devo agradecer. De qualquer forma, os produtores me disseram que foi um público muito bom para o projeto que, por conta do horário, não tem tido grandes platéias.
Gostei de tocar a Tubaína novamente com a banda toda, foi das canções mais aplaudidas com a ajuda da platéia no refrão. Bruno Sciutto, novo amigo, percussionista, ator e arte educador, nos deu a honra de suas congas energéticas em Na Baixa do Sapateiro e em Se Você Jurar. Valeu, Bruno!
(Ah, peço desculpas aos que me aguardaram na saída, mas não percebi que havia uma outra porta para mim e perdi de encontrar a gente no lado de fora do auditório.)
É isso, gente, tudo muito bacana mesmo. Espero que não demore a se repetir e em lugares novos em folha...
Pra variar, eu e minha cabeça de vento esquecemos de divulgar as novas datas: faremos os próximos shows no SESC Rio Preto, dia 06 de maio, no café Villagio, dia 08 de maio e no Syndikat Jazz Club, dia 31 de Maio, em formação reduzida, com o Guappones e Guimets na guitarra. Coloquei acima o repertório do show de quarta e pensei agora que as pessoas poderiam me dar sugestões para bolar o repertório dos próximos shows, portanto, aguardo idéias dos amigos.
É isso, beijos a todos! - E os novos posts voltarão em breve.
Chuí

domingo, abril 01, 2007

Gigante


Observemos o arranha-ceús e suas ramificações.

Seus galhos, seus veios, seus olhares.
Seus arbustos, sua seiva, sua imponência.
Seu mastro, seu cristal, seu cansaço.
Observemos o monstro erguido diante dos olhos,
murmurando em letras claras como o vento
que ali está para lembrar-nos
de que toda construção oculta um mito fundador.
Observemos o que existe ali em segredo
percorrendo a membrana que envolve toda a superfície
da estrutura que se vê.
Observemos, por dentro, a partir do fuso,
a epiderme infinita do carvalho
a nos remendar o silêncio.
Observemos com a ponta dos dedos
o topo do prédio
como cegos que tateassem a cútis
para colher a alma.
Observemos o edifício na sua pele mais sutil.

Pois só o olhar profundo
fita o gigante,
capaz de mirar a tez.


(imagem extraída de "Indecifrável" - work in progress)