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domingo, maio 25, 2008

Perfeição

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Há, na história humana,
quem já tenha almejado um mundo perfeito.
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Outros tantos têm menos ambição:
desejam apenas um corpo perfeito,
um emprego perfeito
ou um amor perfeito.
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Mas há uma triste distorção desta idéia: a perfeição.
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Costumamos tratá-la como algo a se perseguir e se conquistar -
algo como uma ilha que, se alcançada por nossas caravelas,
nos redimiria de nossa miséria e de nosso tédio.
Algo a se copiar de capas de revistas
e de propagandas de TV, como se o vazio
de uma imagem manipulada pudesse preencher
o vazio de nossas almas neuróticas.
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Mas a perfeição não se aponta aos olhos de alguém:
revela-se no convívio. Porque perfeição
pertence ao terreno da ética - não da ótica.
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Jamais segrega: une.
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É que a perfeição jamais se doutrina: é uma descoberta
de nossos corpos no espaço. Porque perfeição
pertence ao terreno da estética - jamais da estática.
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Jamais corrige: ilumina.
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Mais próximo da luz do fogo e do desenho da água
do que da fusão de uma liga metálica, a perfeição
é mais a dança que nos revela
do que a engenharia que nos constrói -
não é nunca um círculo perfeito, senão uma forma
que se nos encaixa por um segundo.
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Porque a perfeição é do campo do instante.
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Filmes e livros e preces em lugares de aconchego.
Jantares regados de risos com bons amigos.
Uma velha canção no rádio invadindo a madrugada.
Sexo com quem se ama.
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A visão do sorriso de um bebê.
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Perfeição é a alegria que não ignora a dor.
Bem mais próxima do prazer
do que da felicidade -
esse sonho de consumo.
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A perfeição não é um ponto de vista,
é um ponto de partida. Sem ela, só há cinismo.
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Porque utopia não deveria ser um desejo,
mas um princípio.
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(texto e desenho: Chuí)

18 comentários:

Anônimo disse...

querido!!!!!!!!!!!!!!!!!!
tão bonito teu texto e teu desenho
só há um problema:
É que a perfeição jamais se doutrina: é uma descoberta
de nossos corpos no espaço. Porque perfeição pertence ao terreno da estética - jamais da estática.

oq faço com minha pança que adquirí comendo tortas na áustria?
esse sim é um problema de estática
http://to.plugin.com.br

Anônimo disse...

Perfeição é também um texto tecido tão perfeitamente...

Bravo ! Fernando !

Abs
Dinaura

Anônimo disse...

Adorei, Fê!
Bjss!

Anônimo disse...

Muito bom Fernando!!! Gostei mesmo. Um abraço, amigo. Liev :)

Luiza Christov disse...

Fernando, que saudade de entrar neste blog com este sentimento de ter lido e visto uma imagem que gosto tanto...
perfeito é você com teu violão de aço
perfeita é a Márcia que acolhe, alimenta e acrescenta beleza em nossa amizade...perfeição existe...um exemplo? esta poesia tua sobre perfeição!

Anônimo disse...

Adorei Fernando, você não sabe como veio a calhar hoje esta tua linda poesia.
Bjs
Eleni

Anônimo disse...

Fernando,

Sempre me encantas com teus textos e teus desenhos.
Beijos, com carinho e admiração,

Urânia

Anônimo disse...

senti esse teu escrito crescer de causo contado em roda ou mesa de bar à coisa física, usável, quase que um casaco à minha espera no canto direito da cama.

que reviravoltas causam tuas crias-dínamo, hein?

beijo,
mari

Anônimo disse...

Oi querido Chuí, que belo texto e que reflexão!! Realmente a vida hoje nos incita a buscar tudo externamente, quando tudo de mais precioso está junto de nós mesmos, perfeitamente ao nosso lado ou dentro de nós. Beijo

Yone

Fernando Chuí disse...

Mari, acho que reviravoltas são os olhares sobre o dínamo...
E que bom se um casaco lhe servir!
Não sei se a conheço, mas deixe e-mail pra retorno quando voltar, ok?
Beijos,
Chuí

Noubar Sarkissian Junior disse...

Revigorante, Fernando!
Abraços
Noubar

Anônimo disse...

Fernando,
esse poema é a perfeição! um soco no estômago para nos fazer parar e refletir o que nos cerca. Sempre fico MAIS e MAIS impressionada com tua inteligência e sensibilidade para o que está ao lado, e consegues VER. Adorei! beijo, Au

Anônimo disse...

A seus inspirados jogos de palavras “ética em lugar de ótica, estética em lugar de estática”, acrescento tomar a perfeição como “meta em lugar de mito”.

Unknown disse...

aaaah Chui!

emocionante!!
bjooooos
Luiza
^^

Anônimo disse...

Perfeito!
Beijos,
Cris

Anônimo disse...

^^

Lara

Celso Duvecchi disse...

Olá Fernando, sei que o que eu vou escrever talvez nem tenha relação nenhuma com esse post, mas preciso falar com vc urgentemente.... Em 2000 eu ouvi e vi a música Tubaína no festival da Globo e ela ficou presa em minha cabeça nesses oito anos, sem que eu tenha a ouvido nem mais uma vez.... Sempre gostei desta música sem saber ao menos, onde encontrá-la de novo e nem quem a compusera (desculpa). Mas a boa notícia é que hoje, eu sou um estudante da USP, de cinema e estou escrevendo o roteiro para um grande evento sobre direitos humanos que a ECA vai realizar em outubro. Eu gostaria muuuito de colocar a música Tubaína neste evento... Não falei ainda com o coordenador, mas essa música me marcou muito e diz muita coisa, eu acho..... então, por favor, entre em contato comigo, para conversarmos mais sobre a musica e outras coisas....
abraços

Celso
duvecchi@gmail.com

nathanael: disse...

Fernando,

E é ao procurarmos pela perfeição que nos entregamos ao poço que nos é aberto no chão, as vitrines das grandes cidades, as roupas, as peles (que deveriam ser as nossas) e que compramos para não sentirmos frio, o frio que vem do nosso interior. Essa perfeição, esse "olho do outro", "olho de ninguém" que nos consome porque nos esquecemos de descobrir quem somos na parte de dentro do ser. Esquecemos da imperfeição que nos compõe e nos faz vivos e sempre aprendizes.