Visitantes

domingo, abril 27, 2008

Lapidarium

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É na contra-luz que uma faca vem nos cortar.
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São gestos afiados, rápidos
como a visão do nosso reflexo na lâmina.
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Não lhe mostram de imediato a dor, tampouco o sangue.
E um oceano lhe invade a conta-gotas.
Parece violência.
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Mas é escultura.
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(texto e desenho: Chuí)

SAMBLUES! - SEXTA, DIA 02



Amigos,

Cá estamos outra vez, eu e meus guardiões Guapponi e Guimmets, em mais um ritual do Samblues.

Aos que ficam na cidade feriada, será nesta sexta, dia 02 de maio, às 22:oohs.

Novamente no charmoso Syndikat, nos jardins, Rua Moacir Pisa, 64 (vejam o convite acima).

Novas e velhas versões novas para clássicos do samba traduzidos ao idioma do blues e do jazz.

Será muito bom vê-los por lá novamente ou pela primeira vez!

Beijos a todos,



Chuí

sábado, abril 19, 2008

Mulher de Costas

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Que mentira seria descrever seus ombros.
Seus mapas, omoplatas, dobras de cócegas -
Paz e rubor.
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Que perda de tempo seria narrar o desenho doido
que trazem as tortuosidades da sua coluna cervical
às minhas digitais encabuladas.
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Tamanha falsidade seria então
traduzir suas margens
em teses de estética e anatomia.
Nada mais distante de você
do que uma tese.
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Meias verdades, talvez,
não nego uma porção considerável delas,
mas todas justificadas:
um plano para seduzi-la
onde tudo em volta se resume
àquilo que não foi dito.
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É como poesia e carne.
Um verso
pedindo que me mostre o outro.
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(texto e desenho: Chuí)

domingo, abril 06, 2008

Entrevista no site Ritmo Melodia



Amigos,

RitmoMelodia é um site que discute e divulga a música independente no país.

Nesta entrevista, conversamos sobre meu processo e sobre minhas percepções sobre a música popular contemporânea.

Convido a todos para entrarem e lerem:
http://www.ritmomelodia.mus.br/

beijos a todos,

Chuí
(foto: Vinícius Fênix)

Rufus e a caveira Luciel


- Já é noite, meu caro - murmura Rufus, o velho fauno gordo, a Luciel, sua caveira e amiga imaginária - Não há mais como negar: a vida me foi ingrata.
- Mas a vida não existe fora de você, Rufus. Porque personificas teu próprio fracasso?
- Cala-te, Luciel, Não me importa tua filosofia barata! - exalta-se o fauno - sabes bem que, da vida, eu tive apenas a ingratidão!!!
- Não posso deixar de dizer que isto é uma baixeza da tua parte, caro amigo.
- Como ousas dizer isso, tu que não passas de uma caveira rachada de novilho?
- Sim, é exatamente o que sou, mas isto não te redime da verdade que trago agora à tua vista.
- Do que falas, ó ignóbil ossada?
- Percebe, Rufus, que enquanto o sentimento de gratidão revela humildade, o sentimento de ingratidão revela vaidade. Gratidão se refere a nós quando aprendemos a viver. E ingratidão se refere ao outro que nos deveria a vida.
- Não tens compaixão? Dizes que sou vaidoso no momento em que sofro?
- Sim, pois a gratidão faz o desejo da homenagem. E a ingratidão faz o rabisco da dívida.
Enquanto sentir gratidão é estar vivo, sentir ingratidão é morrer em pílulas.
- Tu me entornas a traição em forma de retórica, Luciel...Tu és quem não possui gratidão! Tu és quem deveria morrer!
- Amo-te, Rufus. E é disto que se trata a gratidão, uma carta de amor. Ingratidão, por outro lado, é uma via bancária. Enquanto sentir gratidão é uma forma de coragem, sentir a ingratidão é covardia.
- Tomas-me por covarde? Covarde? A mim, a quem tu deves a existência?
- Rufus, é exatamente o que quero dizer. Ninguém deve nada a ninguém. Pois é certo sentir-se grato. Mas não é errado não sentir-se.
Rufus esmaga o crânio do novilho com toda sua força até que seus pedaços de osso se esmigalham e escapam por entre seus dedos na forma de areia e minúsculas pedrinhas caindo e afundando sobre o pântano lodoso.
Antes de deixar o palco, Rufus se dirige ao público pagante nas primeiras fileiras e proclama, quase em um sussurro irônico:
- Quem diz a verdade deve estar disposto a pagar seu preço. E, verdade ou não, ela não passava de uma caveira.
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(texto e desenho: Chuí)