A tradição do retrato fez dele uma tarefa ingrata.
Pessoas têm essa mania de auto-identificação.
Elas têm que se projetar no desenho
como se dessa forma se projetassem na eternidade.
Sempre vivo desenhista a temer a distorção,
a caricatura, o erro.
É uma escravidão isomórfica.
Há uma responsabilidade meio divina:
como se o desenho fosse o homem
e o homem fosse Deus,
e, então, fazê-lo à sua imagem e semelhança.
É histórico; inevitável.
Para isso encontro a solução:
faço o retrato de você, que não existe.
Busco sua expressão,
os primórdios de sua careta, seu perfil;
suas linhas, texturas, luzes & sombras;
assim sugiro sua história, sua memória, seu código
à imagem e semelhança de ninguém.
Voilá; aí está você, que não existe.
(texto/desenho: Chuí)
2 comentários:
que contradição interessante, Fer...
a figura de algo que não existe: a imagem pelo pensamento.
adorei!
Original! Real!
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