Roma fundou
o oposto do amor:
o império de dentro
pra fora.
Crescer, crescer,
tornar-se maior
tomando mais e mais
territórios à sua volta.
Assim se inventou
o conquistador:
Alexandre, Julio César, Don Juan.
De mil espaços,
de mil governos,
de mil mulheres.
.
Foi assim também
que se instaurou
o império da metrópole.
Os geógrafos nos explicam,
a urbis é o organismo
que cresce para os lados:
para fora.
Com seus milhões de carros, de casas,
de gentes e de ausências -
Acelerado, desordenado
e para fora.
Assim se faz devastar
o lugar chamado amor.
Fecundando paixões falsas e suicidas,
gotas de perfume, lágrimas
que se derramam sobre um rio negro,
circulos que se desenham
e se desmancham
ao crescer para fora.
.
O amor é o contrário da metrópole,
cresce para dentro
quando a lógica seria transbordar,
não de alegria,
mas por falta de espaço,
falta de tempo.
Pois o tempo do amor
corre à margem do império -
uma margem que corre dentro.
.
Roma e Amor -
um palíndromo não é por acaso.
(acaso é a morte de todos nós)
O amor é uma força contínua
que só é capaz de crescer
para dentro.
.
Para dentro,
é somente para dentro
que todos os caminhos
levam a amoR.
.
(texto e desenho de Chuí)