Visitantes

segunda-feira, novembro 12, 2007

Sobre o Impulso Maior


Tudo no universo nasce de um impulso.
E por impulsos tudo segue
se transformando e se enviesando,
negando-se a si próprio
até concluir que esta negação é impossível,
pois que em cada vez que se nega um fato,
o mesmo fato ao se negar
acaba, desta mesma forma,
por fatalmente se legitimar.

Na chamada vida humana, há quem pregue
que aquilo que faz o indivíduo crescer e se libertar
é a sua força pessoal, a sua coragem e obstinação.
Todavia, a coragem é fruto da mesma fonte
que ela pressupõe contrariar: o medo.

Por medo de esmorecer, luta-se.
Por medo da desordem, organiza-se.
Por medo de ser visto como fraco, torna-se forte.
Por medo de ser medíocre, torna-se brilhante.

Do medo resulta o impulso mais poderoso
dentre os que os seres humanos possuem.
Certamente maior que o sexo -
já que este deriva do corpo
e no corpo tem sua condenação -
enquanto que o medo provém,
além do corpo e das sentenças de cada cultura,
de forças espirituais como o amor, a morte e a vida.

Por medo de se perder
aquele a quem se ama ou de vê-lo ferido
encontra-se forças desconhecidas
que podem mudar todas as noções antes compreendidas.
O mesmo com o medo da morte
que faz o indivíduo buscar em si
potências pessoais em lugares antes inimagináveis.
E por medo da vida, tem-se o impulso da morte,
a ruptura do sonho de um corpo.

A pulsão do medo é provavelmente maior
do que o próprio impulso do pensamento.
Não perde nem ao menos
para a ambição e a perversidade humana,
duas pulsões que, na mesma medida,
sempre movimentaram as sociedades.

Nasce desse medo o impulso maior
que faz com que ergamos impérios
da mesma maneira como igualmente nos trancafiemos
na alcova dos impotentes.

É de fato o medo que apressa o homem
ao improvável motor do inevitável.


(texto e colagem: Chuí)

9 comentários:

Anônimo disse...

Do que vc diz eu entendo que não há saída: o impulso é o lugar de onde vim e para onde retorno. Só serei o que sou e serei inevitavelmente o que eu queira ou não queira ser.
Nada mais apavorante do que viver neste barco sem rumo da vida.
Só resta inventar e não deixar afogar-se a esperança.Ou seria melhor viver já sem esperança?

Anônimo disse...

Estava aqui escolhendo feijão (rs), enquanto lia este maravilhoso post.
E me surgiu a louca comparação: se tudo nasce do impulso, também o faz o feijão! Como pode brotar, se plantado, num simples pedaço de algodão?! (Até rimou rs) Um substrato que, sabe-se bem, não lhe será por muito tempo suficiente.
Às vezes, acontece isso conosco e, na impulsão (tb conhecida como princípio de Arquimedes, né?), agimos e tomamos decisões mal pensadas e obtemos conseqüências indesejadas...
O impulso é o impensável e o medo é o seu avesso... mas ambos, aqui, estão juntos... Interessante o paradoxo! Fiquei confusa. Vou pensar um pouco mais.

Beijo!!

Anônimo disse...

A vida começou ao juntarem-se substâncias numa gota, o coacervado, dentro de uma membrana acidental. Desde então, uma mebrana separa e protege do mundo os muitos seres. O "medo" a fecha, mas se não for aberta ou rompida, como se alimentar e se reproduzir? Se o "medo" é um impulso primeiro, não pode sempre imperar, ou a vida cessa... Senão, viver pra quê?

Anônimo disse...

Chuí querido, já pensou em reunir seus textos em um livro? São muito bons demais. Adoro ler e outras pessoas estão privadas dessa coisa gostosa que é ler seus textos. Beijo

Anônimo disse...

Olá Fernando

Bela reflexão poética sobre o medo. Dizem que na medida certa ele pode
ser nosso aliado, atuando
como bom conselheiro e em excesso ele nos paralisa para a vida.

Um abraço

William

Luiza Christov disse...

Coacervado? o Menezes me levou para meu delicioso passado de estudante de biologia em um colégio estadual maravilhoso chamado Alberto Levy...que espécie de impulso é a palavra? que espécie de impulso é a memória?
COACERVADO!!! que delícia este impulso de lembrar que está ancorado no medo de esquecer e ficar sem história pra contar. Ou pra ouvir?
obrigada Menezes 1 e Menezes 2

Anônimo disse...

Fernando,
"E por medo da vida, tem-se o impulso da morte, a ruptura do sonho de um corpo." Será esta uma bela definição de morte? ou o sonho do corpo é viver para sempre?
Au.

Anônimo disse...

Às vezes sinto q perco meus impulsos. Concordo q "tudo no universo nasce de um impulso", e então concluo q morro frequentemente. Não seria tão trágico (talvez seria até bom), não fosse essa morte a ausência da vida...

Beijos Fer,

Lara

Anônimo disse...

como vc mesmo supôs, embora sutilmente pois elevou a ação em detrimento da imobilidade, ambos causados pelo medo, acredito que a imobilidade é mais presente. o não fazer pelo medo é mais forte. e nisso estamos imersos, no medo e na imobilidade pelo medo. é nisso que acredito. poucos são os que
têm coragem e reação diante do que consideram pavoroso. beijos querido e visite meu blogg quando puder. inté.