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sexta-feira, março 30, 2007

Mandacaru no SESC Pinheiros


Dia 11 é a estréia do show Nunca Vi Mandacaru no SESC!
Além da banda preciosa, formada por Guima (guitarra), Igor Pimenta(contrabaixo) e Humberto Zigler(Bateria), também haverá uma prévia do SAMBLUES, show de releitura de sambas antigos em versão Blues com a participação especialíssima de Guappo na gaita encantada e Bruno Sciuto na percussão de ouro.
Mais detalhes no convite em anexo ou no site www.fernandochui.com.br/.
Será uma data muito especial para o caminho do Mandacaru de Pedra. Adorarei vê-los por lá!
Mil beijos e abraços,
Fernando Chuí

segunda-feira, março 26, 2007

A Ave


No lugar onde eu entrei
havia uma belíssima ave.
Seus olhos eram duros e brilhantes como cobalto.
Era negra, sem plumas, sem penas,
Sem bico, sem vértebras.
Tinha asas transparentes, mas estava parada.
Era pequena e sua casca fosca
se fundia ao tronco
curvada em meio às suas dobras.
Quem olhasse a paisagem veria as folhas das árvores
prateadas pela luz da lua.
Perderia esta visão, de longe, muito mais majestosa.

Alguns talvez quisessem dar a ela outro nome, gênero ou classificação,
dada a taxionomia patológica que nos assola as idéias e os nervos.
Talvez a chamassem de inseto, quiçá bichinho ou coisa do gênero.

Mas o que eu vi,
sem sombra de dúvidas,
era uma magnífica ave.


(desenho extraído de "Indecifrável" de Chuí - work in progress)

segunda-feira, março 19, 2007

O Sol Negro


Diante dos boatos,
uma sombra avançou pela comunidade.
..
Camadas e camadas de sombra,
penetrando em nossas veias e signos,
entintando o céu e os outdoors
com a força de uma estrela vingativa.
Cartas cheias de tristezas
se aproximavam na velocidade do medo.
Cada cenário era promessa de um crime hediondo.
O fim era uma carta promissória extraviada e inegável.
Sob a peste ou a religião do breu,
cultivávamos o pavor
como se observássemos atentos
aos nossos filhos assassinos
a crescer sob os semáforos.
Eu me lembro de ter corrido o mais rápido que pude.
Lembro-me das minhas lágrimas de nanquim
logo pisadas pelos pés descalços de meus irmãos em fuga,
depois também pisados por outros irmãos em fuga.
Celebridades iam a público revelar suas moléstias graves.
Astrólogos faziam maus presságios na TV.
Escolas de samba mudavam de ramo.
Intelectuais pediam sangue nos jornais.
Cada segundo tornava-se lâmina.
Cada silêncio tornava-se espelho.
Toda mão era punho.
Todo metal era espada.
Todo pensamento, tóxico.
...
E quando todos esperavam a hecatombe negra,
Foi sob a forma da luz
.......................somente a luz
...................................como sempre a luz
..
.........................................................a nos lançar à escuridão.
...
...........
(imagem: desenho de Chuí)

quarta-feira, março 14, 2007

Cinema


Eu....sempre ...quis
....
..........f......a....z...e..r .............c..i...n....e......m.......a
...
....
....M..a..s .........j..á......... s..o..u.........f..e..l..i..z

........
....

S..............e ..............P..............o.............e.............m.............a

....

....

(Imagem: ¥ conversa com Dr. Hamgster em Indecifraveu de Chuí - work in progress)

sábado, março 03, 2007

As Caixas


O artista não cabe em uma caixa.

Mas como saber onde ele se encaixa
se é dentro de caixas que ele é vendido?
Reluta, transgride, por fim concorda
(seu coração sempre transborda).
O artista se esforça a caber na caixa,
pois há no planeta uma legenda:
"Quem mora aqui e não está à venda
não tira a venda de si".
E faz do diabo um retrato belo.
E faz-se refúgio ou fugitivo.
E faz, na ferida do mundo,
um mágico lenitivo.

E nesse momento de desilusão,
ele reencontra o seu lugar.

Mas o mundo é o mundo
porque dá voltas.
Se ultrapassa e se reinventa.
Que ironia, o artista
que antes não se encaixotava
por um princípio, um ideal,
agora não entra mais nessa feira
pois lhe comprar já não há quem queira.
O mesmo artista retorna agora
ao posto antigo, marginal,
arquitetando suas novas caixas
pra se vender essencial.
O infeliz não está à venda,
mas se desdobra a ser comprado.

E nesse momento de extravio,
ele reencontra o seu lugar.

Produz agora porque precisa.
Produz da lógica a revelia.
Produz, à noite, um outro dia.
E se expõe novamente a revoluções.
Vive a sonhar-se em muitas caixas
bem bonitas, aos borbotões.
No ar, na madeira, no aço
ou no cyberespaço
Lança as caixas ao vão
feito bumerangue.
Quer distribuir,
autógrafos em cada uma delas,
com seu próprio sangue.

E nesse momento de ilusão,
ele reencontra o seu lugar.


(Ilustração de "Indecifraveu" de Chuí - work in progress)