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sexta-feira, janeiro 29, 2010

O Salto


Existe algo mágico
no momento em que você se lança ao vento
e seu corpo se torna vento
E seus órgãos são menos que vento
E sua mente se esvazia de conceitos
E não há nada além de vôo
E pavor.

É como uma queda livre,
só que sem eixo definido.
Uma rota de gestos novos.
Uma suspensão de efeitos.

Pois a diferença entre se aterrissar em um mundo colorido
e se esborrachar em uma terra árida
não deveria servir para desviar a atenção

da beleza


inevitável




do






salto.



(texto e desenho de Chuí)

domingo, janeiro 17, 2010

Sobre uma forma particular de dor


Quero falar de uma dor. De todas as dores que há essa é a que dói menos; e a mais perigosa. Ela é lenta, mansa, suportável.
Corrói aço feito ácido; Rói cama qual cupim. Faz de si uma estrada longa e do destino uma coisa ruim. Um vestido preto e longo por muitos anos ela costura; tanto bate até que fura.
Você olha para trás e vê tudo que há pra andar de volta caso quisesse se ver livre dela. Você acha que essa dor é vitalícia; porque essa dor é amiga da preguiça.
Prefira as dores agudas; As dores declaradas, inocultas; As dores de corno, as dores de barriga; As dores de pancada, as dores de luto. Mas não essa dor que tem cheiro de roupa de cama velha e gosto de comida estragada. Essa dor que age no escuro.
Ela é socialmente aceitável; não tem glamour. Essa dor é tão patologicamente tolerável que o ilude a ponto de pensar que ela e você não são coisas diferentes.
Mas você não é uma dor, você é uma pessoa; que pode escolher acolhê-la, acarinhá-la, incorporá-la. Até casar-se com ela.
Ou você pode traí-la: declarando, apontando, iluminando-a a ponto de ser impossível negá-la. Até que ela seja vergonhosamente exposta até o seu fim. Dor que é reflexo de nossa própria covardia.
Tire fotos, acenda tochas, ative todos os holofotes.
Pois é ela que perde a força diante da luz.


(texto de desenho de Chuí)

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Ave Negra


Uma ave negra
sobrevoa o seu medo

Mas não se sabe
se é por fim um medo
de que ela desça
ou de que em vão
ela desapareça

Sem que você perceba,
É a sua própria voz
a balbuciar ao céu:

abutre-me, sim?


(poema e desenho de Chuí)