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quarta-feira, outubro 11, 2006

Canção sobre um Diálogo II - Ensaio para uma Canção


"Danilo velho, percebi agora que o verbo que usei no início da nota acima veio bem a calhar, pois eis que a palavra ensaio encontra significados que podem servir ao início deste nosso registro reflexivo. Usa-se o termo ensaio para se nomear a apresentação de um assunto filosófico, científico, histórico ou de teoria literária, caracterizado pela visão de síntese e tratamento crítico do tema em questão. Para os músicos, a palavra refere-se ao simples ato de se preparar a performance, solo ou em conjunto, para o sagrado momento do show. Pensei no que diz o Luiz Tatit, que a canção é o produto de uma dicção. O que você acha que é isso? Vislumbrei o ensaio que poderia surgir de nosso debate e já não sei se, na contagem final dos corpos, teríamos uma tese dissonante ou uma sintética canção. E aí, cumpadre?Abraço polifônico, Chuí"

Chuí,

Preguiça de escrever. Cantar é tão bom.

Paul Valéry:
“Preguiçoso, mas como uma serpente. A menor coisa extrairá dela toda a energia do sol que ela acumula em sua espera imóvel.

Há duas aparências de preguiça: uma que é espera. Outra, repouso.”

Tenho vontade de philosophar (lato senso) e escreber apenas nos momentos em que estou descansando a voz, ou com a barriga muito cheia para cantar.

Você me pergunta sobre a brilhante definição do Tatit: “A canção é o produto de uma dicção”.

Frase bonita. Evasiva, modesta.
Mas vamos às dificuldades, cantando:

“Se você tem uma idéia incrível, é melhor fazer uma canção. Está provado que só é possível filosofar em alemão” (Caetano Veloso)

“I am a student of ancient culture... Before I talk I should read a book”. (de uma canção de B 52’s)

Isso para dizer que… (Preguiça de escrever) Paul Valéry: “O fundo do pensamento não é nada – e as teorias que não resultam em processos, os quais julgam as teses – não me fazem nenhum efeito.”

(E para dizer também que não posso falar sobre a cultura arcaica da canção sem ler o livro do Tatit).

Gosto da sua idéia de ampliar a palavra ensaio lhe dando outras possibilidades em termos de processo. Ensaio para uma canção. Escrever não para entender simplesmente o que é a canção (presente e passado), mas uma reflexão provocadora de processos, que por sua vez resultem (futuro) em novas canções.

Enfim, escrever-cantar para renovar o canto-escrita.

P.S.1 Podemos pensar no Walter Franco e seu disco Ou Não, aquela da capa da mosca sobre fundo branco. Ele estava propondo o fim de um certo tipo de canção e ao mesmo tempo começando outro? Ao mesmo tempo mosca e sopa? E a mosca foi engolida pela sopa? Ou não?

P.S.2 Deus me perdoe ter citado Caetano Veloso, mas o trecho de “Língua” fala muito sobre o tipo de canção que nos formou --- as “canções-idéia” de Caetano, Chico, Tom Zé, Itamar, Lou Reed, Radiohead, Tom Jobim, Noel Rosa etc. Idéia aqui não apenas como palavra, mas principalmente como forma.

Abraços,

D.

(imagem: desenho de Chuí)

Um comentário:

Roberta Martins disse...

Conheci "você" através do blogg do Fabro, gostei muito e te "favoritei".

Aproveito para registrar o meu gostar pelos desenhos dos bitcho's, a parceria com a Márcia
Tiburi deu certo. Parabéns aos dois.

Começo a achar que preciso migrar pro sul ou sudeste, é onde tudo acontece meu amigo!

Um beijo cearense para você!