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segunda-feira, março 19, 2007

O Sol Negro


Diante dos boatos,
uma sombra avançou pela comunidade.
..
Camadas e camadas de sombra,
penetrando em nossas veias e signos,
entintando o céu e os outdoors
com a força de uma estrela vingativa.
Cartas cheias de tristezas
se aproximavam na velocidade do medo.
Cada cenário era promessa de um crime hediondo.
O fim era uma carta promissória extraviada e inegável.
Sob a peste ou a religião do breu,
cultivávamos o pavor
como se observássemos atentos
aos nossos filhos assassinos
a crescer sob os semáforos.
Eu me lembro de ter corrido o mais rápido que pude.
Lembro-me das minhas lágrimas de nanquim
logo pisadas pelos pés descalços de meus irmãos em fuga,
depois também pisados por outros irmãos em fuga.
Celebridades iam a público revelar suas moléstias graves.
Astrólogos faziam maus presságios na TV.
Escolas de samba mudavam de ramo.
Intelectuais pediam sangue nos jornais.
Cada segundo tornava-se lâmina.
Cada silêncio tornava-se espelho.
Toda mão era punho.
Todo metal era espada.
Todo pensamento, tóxico.
...
E quando todos esperavam a hecatombe negra,
Foi sob a forma da luz
.......................somente a luz
...................................como sempre a luz
..
.........................................................a nos lançar à escuridão.
...
...........
(imagem: desenho de Chuí)

14 comentários:

Anônimo disse...

Há dias tento pensar contra o fim do mundo. Sei que é um delírio o fim do mundo. Mas o clima geral contagia. Se eu fosse poeta como vc...
Eu acredito que a poesia, em quantidades curativas, salvaria o mundo.
Um beijo

Fernando Chuí disse...

Anônimo, eu acredito nisso também. Sobretudo, acredito em acreditar nisso.
Beijo do Chuí

Anônimo disse...

Fer,
parece um sonho. Lembrei da frase do Capricho 43 de Goya: el sueño de la razón produz monstros.
Acho que é assim que escreve.
Além disso, como antídoto, lembrei da frase do Benjamin: a pior droga é o eu, que tomamos quando estamos sozinhos.
Só para citar sua família filosófico pictórica...
beijos
Marcia

Anônimo disse...

... e assim foi como eu virei penitente de Deus.

Abraço. Caye.

Anônimo disse...

... e assim foi como eu virei penitente de Deus.

Abraço. Caye.

Anônimo disse...

É muito bom ter sempre a luz da sua alma poeta a nos fazer refletir. Beijo

Yone

Anônimo disse...

Fernando, adorei! imagem e palavras: beleza pura! você demorou um pouco mais entre cinema e o sol negro...valeu a espera. E agora ao escrever os títulos, pensei nas palavras: cinema que tem a ver com luz, com movimento da luz e o sol negro, a luz que conduz ainda que à escuridão. Cinema...sol...negro.
obrigada
Luiza

Anônimo disse...

Há algo de Inferno de Dante, nesse sol negro. Tenho uma velha edição com ilustrações de Doré, que lembra a sua.

Voltando à metáfora de luz e sombra, diria que o sol negro pode ser um anteparo diante de um céu em chamas. Como dantes, Dante...

Dantesco, não?

Fernanda disse...

Olaa Chuiii
adorei o Sol negro...
minha amiga diz que seus desenhos são um pouco perturbadores, ela tem medo
hahaha
Ah.. eu sou a Fernanda Amorim, pra quem voce mandou o presente de aniversario =D
Bom, eu coloquei um link do seu blog, no meu blog... se puder, se quiser, coloca um link do meu blog no seu =]
adoro vocee ídooooloooo
beijoss

ps: minha mãe olhou suas fotos no encarte do cd e disse que voce é lindo! hehe

Fernando Chuí disse...

Imagine, querida, fico feliz que tenha gostado. Diga pra sua amiga não ter medo, fale a ela que depois que a gente perde o medo das sombras, começa a se sentir cada vez mais atraído por elas. E
agradeça à sua mãe pelo elogio, hehe...
Beijos do Chuí

Anônimo disse...

gostei da música da ilha!
nada melhor do que o excesso de luz para lançar-nos à escuridão. depois saímos, menos míopes. beijo

Anônimo disse...

Caetano fez:
"Na minha voz trago a noite e o mar
O canto é a luz de um sol negro e dor
É o amor, que morreu na noite do mar
Valha Nossa Senhora
Há quanto tempo ele foi-se embora
Para bem longe, pra além do mar
Para além dos braços de Iemanjá
Adeus, adeus"

Uau! "Luz, olha o horizonte q maravilha..." Nossa, tb me lembrei de 'Uma outra ilha'. Tudo é mar! Mar de gente, mar de sombra, mar de luz, mar de ilusão...
Fer,
esse paradoxo luz x breu me remete à idéia de um túnel, aquela coisa escura acompanhada de uma luz ao fundo... poeticamente, uma luz q pode ser a esperança. E acho q é disso q estamos todos 'precisando'.

Parabéns sempre!
beijos!

Anônimo disse...

Um nova interpretação brotou em mim: salve-se quem puder!
Isabel já nos libertou, faz século, mas a escravidão tá aí! Embora muitas vezes, sejamos escravos de nós mesmos...

Quanta poesia!
beijos

Anônimo disse...

Assim, à primeira vista, vi um pernilongo, de perfil. Mas quem disse que ele não é belo, não obstante seu interesse carnal e sanguíneo por mim... Mas isso é bem menos poético que seu texto.

Ave!!!