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terça-feira, maio 08, 2007

Relâmpago (Cordel Urbano I)

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"Uma sociedade que não se prepara para proteger suas crianças
no futuro deverá se preparar para se proteger delas".
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Luis Carlos de Menezes - Revista Nova Escola
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(Cerca de um mês atrás, eu tive um sonho onde eu tocava raivosamente um rock em Mi maior no violão. Hoje, ao ensaiar algumas velhas canções, lembrei-me de um texto de meu pai sobre a educação e a criminalidade infanto-juvenil. Em instantes, a noite regurgitou uma letra inteira para mim, esta que se encaixou perfeitamente ao rock onírico. Como um sapato velho a um pé torto.
Se eu tiver coragem, vou incluí-la no próximo disco.)
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Relâmpago
(Cordel Urbano I)
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Mermão, nem um pio e já pega à esquerda no farol.
Nesses próximos minuto você vai roer o osso
que eu roí pra me formar perito em desumanidades.
Sem gracinha que o meu berro tá apontado ao seu pescoço.


E aí como é que foi o seu lindo carnaval?
Pagou quanto o abadá? Fotografou o pelourinho?
Mas não tem mais festa agora, não tem cordão entre nós.
Que ironia, eu vim de lá, eu vim de lá pequenininho.


Pára o carro devagar e finge que eu sou teu amigo
e já saca esse cartão e digita a senha certa.
Não se esqueça, meu irmão, melhor ter muito cuidado,
cada um cuida do seu, e o teu tá na minha reta.


É, eu sei, tu tá estranhando eu te chamar de meu irmão.
Eu sinto que te desaponto, isso tu não vai negar.
Eu sou o outro lado teu, aquele que tu não quis ver.
Tu é o outro lado meu, o que ocupou o meu lugar.


Mermão, nem um passo em falso ou um abraço, tu já era.
Já tá quase no final, mais um caixa, mais uns $1000.
Só não sei se eu te liberto, levo o carro e vou embora
ou te queimo e deixo o corpo em algum terreno baldio.


De menino eu aprendi, a cada surra que eu levei.
Hoje o destino te sussurra no ouvido, canta assim:
Se ontem tu não fez de nada pra me proteger da vida
amanhã tu te prepara pra te proteger de mim.


Mermão, agradece a Deus, hoje é teu dia de sorte.
Já reduz bem devagar e pára no acostamento
que hoje eu tô de bom humor e até que fui com a tua cara.
Eu levo os cheque e o celular, mas te deixo os documento.


Agora eu vou abrir a porta e atravessar aquela ilha
e tu não vai querer deixar tua mulherzinha de luto.
Eu volto aqui pra te pegar e todo o resto da família
se tu ousar olhar pra trás nos próximos dez minuto.
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12 comentários:

Hamer Palhares disse...

Tem tudo de melhor das histórias roqueiras à la Faroeste Caboclo ou Marvin, Walk on the Wild Side, Rocky Racoon e o triste é ser tão real.
Alguma coisa no estilo João da Silva.
Forte como um punhal feito à mão, um relâmpago às avessas inundando de escuridão o céu tão imaculado do nosso descaso.
Valeu, brou!

Fernanda disse...

Chuiii
Amei o texto...
me senti ali na situação do "irmão" até... hehehe
Na fila pra pegar talento você passou umas 5 vezes e deixou um pouco de gente sem!!! rs
Excelente semana pra ti, xará!!!
Bjãão!!!

Anônimo disse...

E isso a toda a hora! Aí, aqui, lá... A banda abandonada agora impõe seu grito ignorado e a outra banda encolhida, geme. São horrores diferentes, lhes parece, mas nem tanto. São os brados de um país adoecido.
Inclua, sim. Em céu turvo e pesado destes tempos, relâmpagos são clarões.
Bj

Anônimo disse...

Oi querido Chuí,

Você sabia que meu mestrado foi sobre crianças de rua? Pois é, você me emocionou com sua alma poeta de sempre com seu olhar aguçado ante a realidade da vida.
Também ainda não tinha lido "Mentira". Adorei. Grande beijo,

Yone

Anônimo disse...

Põe no próximo trabalho, música violenta e narrativa, sem ser moralista.

Anônimo disse...

Isso msm!!
quero escutar essa música!;)

Bjo grande,
Luiza

Anônimo disse...

Fernando Chuí,
tantas coisas líricas você escreve nas canções e nos poemas virtuais. Comovo-me com sua dualidade - Quero amanhecer ao seu lado/ Canção de amor para Marcia/ Estrela morta/ Uma outra ilha/
canções MAAVILHOSAS. E d'outra parte você arrasa quando pinça a violência infantil/urbana nesses versos contundentes e tão reais. Parabéns!

Anônimo disse...

Tem pai que inspira e filho que respira e nós que...aspiramos... a nos mover no vento loucutópico da tua poesia.

Luiza Christov

Fernando Chuí disse...

Anônimo, muito obrigado pelas palavras.
Na próxima visita deixe seu nome e e e-mail, heim? Beijo do Chuí

Anônimo disse...

fernando chuí:
apareço Anônimo porque me atrapalho (problema de BIOS - Burrinho Ignorante Operando Sistema!!!!. Sou Amarilis.

Anônimo disse...

Uau!!
Mto expressivo, Chuí!! Tem q vir no próximo cd siiiiiiim!!!;)
Bjinhoss,
Lara

Unknown disse...

Olá Chuí.
Estou trabalhando em um livro-reportagem que fala sobre a expansão da literatura de cordel e acredito que vc poderia me ajudar com algumas opiniões. Podemos falar a respeito?

Meu e-mail é: ar.cattelani@uol.com.br.

Obrigada.
Abç,
Adriana