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domingo, agosto 12, 2007

A Execução


Um segundo de lucidez
se anunciou como meu carrasco.
Trazia o emblema da verdade
no fronte de um uniforme de general.
Ordenou gaboso minha sentença
como quem declamasse
um poema decorado de outro.
Sobre o chão, que craquelava em múltiplas ausências,
aquele segundo de aço veio marchando
por entre aquelas varizes de silêncio
que se desenhavam à minha volta
desbravando meus terrenos
com seus facões e retóricas
até invadir o meu peito
como um membro artificial
reclamando-me uma vaga.
.
Foi quando ocorreu a execução.
O segundo, que não me deixou saída
a não ser transbordar de mim,
fez-se do metal à pedra à areia ao vento,
executando-se a si mesmo
como em todo assassinato oficial.
.
Fui-me para sempre.
Deixei tudo ali,
levei apenas meu corpo.
E me atirei nessa hora
para dentro do você.
.
.
(texto e desenho de Chuí)

10 comentários:

Anônimo disse...

Fer,
achei tão doído o seu mergulho. Se interpretei bem, vc fala de uma dor de existir que se descobre no instante que se apodera dele mesmo, aquele kairos dos gregos, sobre a qual não temos saída a nào ser a entrega ao que a nega mesmo de modo abstrato. Tal é o poder do TU na vida de um EU. Uma ilusão. Que, pelo menos, tenha bom sabor.
Um beijo
Marcia

Luiza Christov disse...

Eta maneira doida e doída de falar de amor...vc está cada dia mais ousado na liberação destes mostram que habitam vc. Só que para o bem e para o mal, você vai pondo a gente de cara com os monstros que nos habitam também.

Hamer Palhares disse...

Ainda tô tentando entender.
Talvez a execução não tenha sido uma execução mas sim a liberdade (que pode nos aterrorizar como a "encarnação do mal", como já dizia o Menezes). Afinal, para que a liberdade senão para gozar o outro?

Anônimo disse...

Chama a atenção o fato de que as "varizes de silêncio" se formam à volta do ser humano, como se o chão se fraturasse sob seu peso... Mas não é disso mesmo que se trata? A execução não é o instante da consciência do próprio peso? Como as figuras de desenho animado, correndo no ar sobre um precipício, até se notarem sem chão... Então, e por isso, caem!

Anônimo disse...

Até uma execução na sua alma de poeta, faz refletir melhor. Beijo


Yone

Anônimo disse...

E tua marca já está aí, Chuí! Tatuada na gente! =)

Parabéns, sempre!

beijos contentes!

[da caloura demente! rs]

Anônimo disse...

Que lindo desenho, adorei!

Anônimo disse...

Excelente, Fernando.

Obrigada !
Dinaura

Anônimo disse...

Ei Professor gostei dos textos hein :)

Anônimo disse...

Chuí!!!

Há mto q entro no seu blog, viajo no seu desenho do último post e saio. Mas hj ñ...
E se meu dia estava sem identidade, acabo d encontrar nas suas palavras...
Com apenas uma diferença, que...

"Foi quando ocorreu a execução.
O segundo, que não me deixou saída
a não ser transbordar de mim,"
'fez-se do vento à areia à pedra ao metal,'
"executando-se a si mesmo
como em todo assassinato oficial."

E me atirei em seu poema...

Obrigada Chuí!!;')

Beijos,

Lara