Visitantes

terça-feira, novembro 11, 2008

Entrevista a AIC - Sobre a Canção


Amigos, a vida, o trabalho e a pesquisa não têm me deixado tempo para o prazer da escrita/desenho/diálogo neste blog, mas divulgo aqui esta breve entrevista a respeito da oficina de canção que dei a Marcia Mattos, a assistente de comunicação da Academia Internacional de Cinema, onde serão realizados os encontros.
E em breve retomo o blog com a devida constância...
Beijos a todos,
Chuí

AIC: Olá, Fernando
boa tarde! Obrigada por sua colaboração, viu?

Chuí: Marcia, eu que agradeço.

AIC: Por quê uma Oficina de Canção?

Chuí: A canção é um dos elementos culturais mais presentes na memória e no cotidiano das pessoas nos últimos 100 anos e, ao mesmo tempo, é uma linguagem em si um tanto quanto mal compreendida. Não se encaixa realmente no terreno da música nem no da poesia e, no entanto, quando nos referimos a ela, falamos de música e poesia, sem nos darmos conta a respeito de que se trata.
A idéia de uma oficina de canção não é definir um conceito como quem definisse uma resposta fechada, mas reavivar a canção como uma experiência viva e social, refletindo sobre sua história, abordando teorias que respaldem a compreensão e fruição do tema para a realização de criações musico-literárias.

AIC: O que devem esperar os alunos desta oficina?

Chuí: O meu desejo é que os participantes façam comigo uma reflexão coletiva sobre o lugar e o sentido da canção nos dias de hoje e, sobretudo, que juntos inventemos novas canções a serem apresentadas ao final dos encontros. O curso pode até estimular novos compositores, mas a idéia principal é trazer a criação de canções como uma experiência coletiva de criatividade e de fruição do enorme legado de nossos cancionistas. Para tanto, precisamos às vezes recorrer à história e à teoria. É claro que sem jamais nos desvencilharmos da canção viva, algo a ser cantado, alegrado, rememorado.

AIC: Existe fórmula para escrever uma boa canção?

Chuí: Certamente que não. Assim como não há fórmula para uma suposta boa arte em nenhum campo de sua criação. Não há equação que nos levasse a Adoniran Barbosa ou a Bob Dylan, assim como a Drummond ou a Van Gogh.
Mas há maneiras de compreendermos/apreciarmos mais as suas cores, e há dinâmicas possíveis para vivenciarmos a canção por novos processos, para quem sabe reconstruirmos ali o sentido de se cantar versos.

AIC: De que tipo de experiência se extrai inspiração para criar uma melodia original?

Chuí: Em canção, a melodia é apenas um dos vários elementos que lhe conferem expressividade.
Existe a letra - que traz uma forma poética ligada à fala -, o arranjo - que é aberto -, o acento do cantor, etc. A combinação de todos estes fatores é que nos faz gostar de uma música mais do que de outra. No cancioneiro popular - em sua maior parte - há pouco que pudéssemos definir como definitivamente original em termos de melodia.
A música popular é, em si, uma arte de redundâncias onde a originalidade se dá por meio de sutilezas e escolhas pessoais. Mesmo em obras de compositores melodicamente geniais como Tom Jobim, é difícil definir originalidade. Ele mesmo foi processado por algumas vezes - nunca perdeu, diga-se - por plágio por conta da forte semelhança de algumas de suas melodias com as de determinadas canções do jazz.
E inspiração, para mim, é fruto do trabalho contínuo e do diálogo com o mundo.

AIC: Qual a liga necessária para o casamento entre a letra e a canção?

Chuí: Também não vejo uma resposta simples para essa questão. Mas de um forma geral, esta é uma preocupação com a prosódia, que diz respeito à combinação das melodias com o acento e a entoação presentes na letras - que tem ligação direta com a fala.
Em geral, é bom evitar choques entre a melodia(música) e o acento natural da fala(letra). Também é legal evitar letras cujas sílabas poéticas não se encaixem numericamente nas notas da melodia. Mas há diversos casos de grandes canções com erros de prosódia e tantas outras que a melodia se prolonga depois da sílaba final. Acho que não há regras, o mistério da beleza das coisas se dá à revelia da técnica.
Mas toda essa conversa só faz sentido se pudermos sair do terreno da lógica e adentrarmos o campo da experiência, esta, que é afinal a proposta desta oficina.

AIC: Um abraço e muito obrigada!

5 comentários:

Anônimo disse...

Oi Chuí, como gostaria de conseguir um tempo para fazer tudo que gosto. Beijo

Anônimo disse...

que maravilha fernando!
que sobreviva mais que viva a canção pra nós que a amamos
e pra todos aqueles que um dia aprenderão a amá-la
desejo a você um ótimo trabalho! excelente projeto!
bjs
lourdes=

Anônimo disse...

Ai ai ai, quando é que vai ter Oficina da Canção aqui pelas bandas do Rio Grande do Sul??? :)
Abração e boa semana!
Denise

Anônimo disse...

Que lindo, Fer!!! :)
Fico feliz com este seu trabalho também.
Super esclarecedoras suas respostas...

Ah, sabe q ontem tava eu ouvindo 'Chat das 5' na MpbFm, com Glaucia Nasser, e descobri q ela tem 3 cds já lançados? (sendo que vim conhecê-la há uns poucos meses!) E pensei: "caramba! quanta coisa boa por aí que a gente desconhece... É, vai ser assim mesmo com o Chuí: o cara (midiaticamente) 'recém-lançado', e, quando menos esperamos, a notícia de q ele já tem 3, 4 cds também! E aí virá a gravação do DVD ao vivo! :D "

Beijão

Anônimo disse...

Fernando, adorei...
Luiza