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quarta-feira, julho 04, 2007

A Metáfora de Django


Django era cigano e vivia em caravanas.
Banjo e violino ele tocava a noite toda.
Pra sobreviver vendia flores de papel.

Mas, logo aos 18, um incêndio aconteceu
queimando uma perna e também a mão esquerda.
Médicos disseram que ele não mais tocaria.

Mas com os dois dedos que ainda lhe restaram
Django inventou um jeito novo de tocar
Rápido e melódico, ele se torna uma lenda.

Foi quando o jazz negro americano mudou Django
e quando o branco Django então mudou o jazz.
Jazz é arte de, na vida nova, improvisar.

E, quando o Nazismo leva os parentes ciganos
para Auschwitz, ele segue improvisando.
Django sobrevive também à Segunda Guerra.

Muitos discos, gravações, viagem para América.
Django vira o maior guitarrista do planeta.
Vira referência, ganha fama entre os gigantes.

Mas, sem gasolina, um dia o seu carro enguiça,
e ele segue a pé, levando só o violão.
Deixa o automóvel abandonado na estrada.

Django já andava cansado daquela vida.
Resolveu deixar tudo para trás e ir morar
numa vila com a família - pescar e pintar.

............................. ***

Deixar de viver algo por falta de recursos
é a escolha dos covardes que não querem ver:
Estar vivo é fazer, de uma limitação, virtude.

Django é uma metáfora de vida e liberdade.
Dois dedos que restam de uma mão incendiada
podem ter ali, quem sabe, o tal dedo de Deus.


(texto e desenho de Chuí)

13 comentários:

Anônimo disse...

Que metáfora, Fernando, logo no início da noite!!!...é essa vitude (vencer as limitações) é que persigo com estes dez dedos.
Aurora.

Anônimo disse...

Como diria a, tb, metafórica Dercy: @#%$&*!?+¨=&! (piiiiiii) rs

Ótimo, ótimo, Fer, como sempre!!!

"Estar vivo é fazer, de uma limitação, virtude..."

Lembrou-me da minha idéia - futura - de tatuagem: "A vida recomeça a cada dia."

Amei! (como não é nenhuma novidade!)

beijos!

Hamer Palhares disse...

Valeu, Chuí!
Tô por aqui acompanhando tudo.
Abraço,

Hamer

Luiza Christov disse...

Fernando, vc é sem dúvida um contador de histórias...

Anônimo disse...

estou aqui lendo o blog e ouvindo uma "I´ll see you in my dreams"
django realmente é demais.....

Anônimo disse...

Querido Nando

Seu bisavô, Francisco Menezes (nascido Francisco Assunção Sobrinho, mas que adotou de nome por um conflito com o pai), no fim do século 19 perdeu um braço e dois outros dedos da outra mão, em um engenho de cana. Não podeia mais ser menino de engenho, então tornou-se guarda-livros, depois professor e depois relojoeiro!

Lições de Django, lições de Vô Chiquinho...

Anônimo disse...

Seus textos são sempre uma bela e profunda reflexão. Beijo

Yone

Fernando Chuí disse...

Puxa, pá, eu sabia do nome, mas não dos dois dedos. Ele que deliberadamente inventou nossa história e nosso nome.
Escrita certa por linhas tortas?

Anônimo disse...

Fernando,
então Django estaria no teu dna?
Aurora.

Fernanda disse...

Chuiiii
que perfeitaaa essa metáfora!!
Deveríamos ter um pouco de Django dentro de nós, quando nos acontece algo ruim, mas é tão difícil hein! Diz aí!
To até agora refletindo sofre esse texto... maravilhosooo!!
Bom, eu tenho que ressaltar mais uma vez que você é simplesmente fantástico em cada linha escrita, cada traço de teus desenhos e em cada nota de suas músicas!!!
Você é demaissss Chui!!!
Tenha um otimo dia! Sempre!
Beijossss

Anônimo disse...

Adorei!

Abs,

DM

Anônimo disse...

Gostei da do Django, além de tudo muito a ver com meu
momento de busca de novos saberes. ontem mesmo
reassisti aqueles vídeos sobre o Django que tem no
Youtube. Salve as sincronicidades! Abraço
Iraçu

Anônimo disse...

Não sabia do Django, mas já tratei de corrigir. Fez-me lembrar do pianista e maestro João Carlos Martins que, por conta de um acidente e um assalto, teve os movimentos das mãos prejudicados. Hoje ele rege orquestras mundo afora e introduz jovens carentes à música boa. Outro grande exemplo.

Tô na mesma que Iraçu...Outro salve às sincronicidades!

Beijos