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terça-feira, novembro 14, 2006

Diálogo sobre o Desenho I - por Marcia Tiburi & Fernando Chuí


Fernando,

Há dias prometi escrever a você sobre o desenho desde que conversamos sobre esta possível troca de idéias. Vou tentar expor meu pressuposto para iniciar esta conversa: meu simples gosto pela coisa e mostrar o quão complexo isto pode ser e como esta afirmativa sobre minha percepção pessoal com o desenho, possui um lado político e ético que pode tocar a todos nós. Trata-se do ético e político que está sob o véu de toda estética. A ação, o modo de ser que a define, que está por trás de toda aparência.
Pois, Eu desenho, Tu desenhas, Nós desenhamos, ora todos desenhavam e muitos perderam o vínculo com esta forma de expressão seja porque foram educados para esquemas, ou alfabetizados com certo recalque das funções expressivas, seja porque nossa cultura não valoriza este trabalho com o traço. Mas além de eu, tu, nós, há “Eles” que “desenham, hoje”. Quem são eles? As crianças, os estudantes, os ilustradores, os chargistas, e alguns apaixonados como nós que não profissionalizaram sua arte. Tomo este tema pensando em todas estas pessoas, além de nós. Suspeito que a relação com o desenho seja a mais ancestral relação que uma pessoa pode ter com a representação e se ela permanece, companheira da vida de alguns e trazendo-lhes tantas alegrias (infinitas e minimalistas ao mesmo tempo), por que outros se separaram desta possibilidade?
Além disso, lembro-me como a faculdade de artes, quando eu fazia meu bacharelado em desenho, foi desestimulante. Fiquei pensando, por mais artistas que fossem os professores – e não quero deixar nenhum tom de queixa ao que vou dizer – faltou-me sempre uma introdução ao desenho que me colocasse junto com o que é próprio ao gesto de desenhar: o gesto de pensar como ato de criar conceito por meio de traços.
Por isso, a filosofia sempre me pareceu mais instigante, porque eu via nela a construção de conceitos que o desenho também fazia, mas de modo explícito.
E, para começar nossa conversa, pergunto: podemos dizer que desenhar é pensar? Digo pensar como um modo qualificado de olhar e ver. Você considera que este vínculo entre filosofia e desenho tem sentido? Não seria a filosofia uma explicitação do que no desenho é apenas implícito?
Um mundo onde as pessoas desenhassem mais, como se dançassem mais, ou cantassem mais, seria um mundo melhor? Você acha que esta preocupação é muito ingênua?
Um beijo,

Marcia

(imagem: desenho de Marcia Tiburi)

6 comentários:

Anônimo disse...

O desenho da mamãe ficou muito bom. Vai responder? O desenho parece uma folha, por isso, gostei muito. O desenho para mim é uma coisa que desperta a imaginação. Eu, por exemplo, adooorooo desenhar xD.

Anônimo disse...

Vejo nesse desenho (gosto demais de todos)a vela de um barco e seu reflexo na água.

Anônimo disse...

Uma fruta...

Anônimo disse...

Mais um lindíssimo! Vejo um casulo!
A filosofia nascendo do desenho, talvez...

Anônimo disse...

caramba!!! aiiiiiiiiiiiii

tô arrepiada com esse diálogo!!!

Mastabi disse...

"Um mundo onde as pessoas desenhassem mais, como se dançassem mais, ou cantassem mais, seria um mundo melhor? Você acha que esta preocupação é muito ingênua?"



Logicamente seria.
E este com certeza não é o mundo onde tudo é voltado para o mercado.
E lá vai a Humanidade caminhando para sua total falência.